sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CONTATO

CONTATO – (1975)

É, segunda sua autora, “la rencontre manquée” de que fala Lacan. “É o meu fracasso diante da opacidade do outro ou da minha vontade de transparência”.
Ou seja: a constatação final da absoluta impossibilidade de se estabelecer uma real comunicação com o outro.

ALGUNS POEMAS DE "CONTATO":

1. O meu amor que pensa
o imcompreensível, nítido
universo, não busca no imediato
fruir, na mera urgência
de não ser, o sentido
das coisas, este fino, breve, claro
ir do não-ato ao ato,
ou da não-vida à vida,
o tranquilo mover-se
entre sonhos que versa
-que poderosa mente? e não sabida
fonte de tudo em mim
que a mão estendo, e nem sei a que vim.

O palpável vazio
de tudo é um abstrair-se;
o concreto real: símbolo e soma
e forma de aludir.
Se comtemplo e não vejo,
se a cada passo a vida não assoma,
é em mim que se retrai,
eu que, no entanto, aspiro
à integração no frio
e vivo suceder,
ao não-eu de meu eu como a perfeita
maneira de contato,
ou atualização do amor em ato.

Ditoso tempo, a firme
primavera reinventa-se,
e o não-amor suposto é o mais-que-amor
subterrâneo, que elide
o fluir certo, e a lenta
floração propicia, num rigor
minucioso de cores,
de silêncio e luz vária.
A atualidade muda
do que vive me afunda
em secreta alegria ante essa calma
surpresa de existir,
num dilatar-se, amor, que é restituir.

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