XXV. O ovo é uma coisa demonstrável,
a casa é uma coisa demonstrável,
o quadro é uma coisa demonstrável,
o poema, o teorema, o filme
são coisas demonstráveis; a teoria
dos quanta, a infância irreversível;
a explosão da nebulosa inicial
em que nem sei se creio; a pobreza de alguns,
a riqueza dos outros; a erosão, a repartição
pública, a escoriação, o computador, a estase;
a lei que rege este universo,
o ritmo das marés que acompanha o da lua;
o cogito cartesiano;
a guerra, a paixão, a criação,
o crime, o adubo que faz crescer a planta.
Mas a calúnia é indemonstrável, segue
o caminho da injúria que uma vez
plantada prolifera:
é astuta, ambígua, vingativa, escusa;
é a escória que lixo algum recebe,
erva daninha cuja função talvez suprema
é acabar injuriando aquele que injuria.
XXX. Escrever é preciso, diz Pessoa,
viver não é preciso. Mas não sei
onde um começa e outro termina,
ofícios ambos destinados
a desembocar no Enigma.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário